Ela dança a música “Ilariê”, da Xuxa, em festa de Ano Novo. Diz “quis lindo” no lugar de que lindo e “quentá” para esquentar. Adora jogar buraco e ai de quem rouba nas cartas: é briga na certa! Também gosta de jogar conversa fora. É mandona e divertida como as matronas devem ser. Tem o cabelo prateado curtinho e gosta que eu escove o topete para trás. Faço, também, suas unhas e pinto seus olhos com sombra azul. Seu bife é o mais gostoso do mundo, nunca comi outro igual. Leva os netos para passeios na praia – “a farofa organizada”, e para viagens longas também.
Ele gosta de fazer fogueira em frente a sua casa com folhas secas e coisas que não usa mais. Adora ler jornal e escrever comentários quando acha justo. Também gosta de jogar buraco e se diverte quando os netos roubam, mesmo quando mostra indignação. Ri das minhas histórias – reais e descaradamente inventadas, e me deixa entrar no meio da cama, quando durmo com eles no verão. Nunca o vi bravo, nem comendo macarrão. É um militar, mas para os netos, nada durão.
Quando os via sempre pedia a benção, que vinha antes mesmo dos beijos. São a raiz da árvore que hoje sou fruto. Adubaram o terreno, prepararam o solo com suas vibrações de esperança. Plantaram a vivência de duas famílias, nos erros e acertos. E botaram fé no sucesso da colheita.
Já dancei a música “Ilariê” em festa infantil. Chamo meus filhos de apelidos que não tem pé nem cabeça. A última vez que joguei buraco não roubei. Falo pelos cotovelos. Hoje sou mais divertida do que mandona, quase nada matrona. Pinto os cabelos de dourado e os deixo secar sem pentear. Dizem que minha canjica é supimpa. Gosto de “farofa organizada”.
Meu irmão monitora a fogueira em nossa festa de São João. Gosta de soltar fogos também. Trocou o jornal pelo conhecimento via Internet e o buraco pelos jogos do game Wii. Desconfio que rouba no jogo. Dorme com o filho no meio da cama e não recusa um bom espaguete. Espírito de criança, mesmo sob terno e gravata.
Somos como ramos que espelham a força do caule. Passadas várias estações, ainda somos filhos do mesmo chão. Estado da terra, idéia do grão. No dia em que se lembram os que partiram volto à atenção aos meus avós, com sincera gratidão. De tudo que temos deles e de tudo o que a partir deles pudemos transformar. Agradecer garante a continuidade. A mágoa e indiferença não. Mesmo que não haja um passado bom de lembrar, ainda assim há que se reconhecer que a terra se renova com o perdão. Só com ele nossos descendentes podem vingar livres de agrotóxicos.
Eles cantam músicas do Raul Seixas e o primo aprende a falar. Gostam de jogar pelada e Can Can, enquanto o pequeno diverte a família com caras e bocas. Fazem perguntas capciosas e bagunças de dar dó (dos pais). Comem pouco, comem muito, se melam, correm, batem a cabeça no chão. Pedem colo, dormem com a mão no seio, acordam de supetão. E ainda há, outra que promete, que por ora chuta o barrigão.
Salve a terra que nunca morre. Bença vô, bença vó.
Helguitcha você é incrível sabia!!
ResponderExcluirNão há uma dia se quer em que eu não me lembre da "Vò" gritando: Véioooooo!" E e o "Vô" vindo falando bem calmo ja vou Nadir ja vou!
Tenho poucas lembraças da "Vò" mas as boas que tenho são de me fazer gargalhar sozinho.
Já o TENENTE Oscar Pereira Monteiro, ou Major, ou "véioooo" ou Avô memsmo, me trazem as melhores e mais gostosas recordações que tenho. Me fazem sentir orgulho e ser muito grato por quem nós somos, de quem eu sou e de quem eu quero ser.
Assim finalizo esse comentário com um bordão usado muito por nosso Avô, fazendo uma crítica a política de nosso país!
"LADRÕES"!!
Bença Vô, bença Vó! Muito obrigado por tudo!
É muito bom viver a lembrança de quando éramos criança... Dona Nadir e seu Oscar foram meus avós também! Eu, claro que influenciada pela neta legítima, tinha atitudes de neta mesmo; como deixar a louça da família inteira pra avó e tias lavarem e ir à praia fugidas!!... bom fugir já é um outro assunto para outra "conversa vai conversa vem"... há há há!!!
ResponderExcluirA família Monteiro pra mim, é lembrança de muitas gargalhadas e histórias engraçadas; todo final de semana era festa, festa na casa da vó na Bertioga; era muito samba, pagode e a caipira que nunca faltava; éramos crianças mas a energia de alegria era muito nítida pra mim.
Tenho muita saudades de jogar ping pong, caçar rãs, fazer banda,jogar war, ir pra vila, trocar o horário do relógio pra aproveitar mais um pouquinho a "night de bertioga", comer cuscus de manhã com ovo, cheiro de feijão da tia Sônia...hummmm, gargalhadas do tio Miguel, escutar a Dona Nadir berrar pro "véio" e ir chamar o seu Oscar pra jantar na fogueira de papéis... muito bom, Helga! muito obrigada por viver e reviver estes eternos momentos!!
um beijo no coração! tati
Helga, a vó e o vô,achavam graça de suas proezas,quando contava os acontecidos lá da escola misericordia, eles davam muita risada.
ResponderExcluirgostei do seu blog, quem passou o endereço foi sua tia Beth. Trabalhamos juntas.
ResponderExcluirbjs
cris
Eih! Helguinha!
ResponderExcluirAdorei seu texto. Lindo, só poderia ter sido escrito por uma pessoa especial como você.
Relembrar é muito bom. Ser grato é indispensável a vida.
Bjs.,
Tia Beth.
Fernandinho
ResponderExcluirSomos privilegiados. Nossas lembranças de família enchem a mesa de qualquer reunião despretensiosa. Obrigada pelo carinho! Beijão!
Tati
ResponderExcluirSomos netas dos mesmos avós sim! Você incorporou a alegria da família e foi parte das nossas bagunças e festejos. Lembranças como as daquele tempo são um legado que não tem preço.
Obrigada!!! Beijão!!
Cris
ResponderExcluirObrigada pela visita! Volte sempre!
Beijão!
Tia Beth
ResponderExcluirNo passado estão muitas pistas sobre respostas a serem dadas para nossas atuais perguntas. É sempre bom beber da sua sabedoria. Sem apego nem nostalgia, mas como aprendizado. Obrigada por ser tão especial para mim. Volte sempre! Beijão!