sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Erva daninha



Tenho duas jardineiras na varanda carregadas de plantas e cercadas de flores resistentes ao sol. Uma samambaia que completa uma década, flores de primavera, bromélias, flor de Natal (bico-de-papagaio) e coloridas flores da fortuna (kalanchoe). O ambiente é o meu preferido da casa, um pequeno jardim que cultivo desde quando casei e mudei. Eis que noto no vaso da flor de Natal uma plantinha toda prosa, altinha até. De início não dei muita importância e o crescimento da danada deu-se de vento em popa. Até que um dia desconfiei que a invasora pudesse ser uma variação corriqueira de erva daninha. A terra mais seca, a flor mais desenxabida, enfim, alguns sinais de perigo.


Uma planta é considerada daninha quando nasce de forma espontânea e interfere negativamente nas culturas que dividem com ela o solo. Compete por luz , água e nutrientes e multiplica-se de forma vertiginosa. Arranquei-a da terra num ato instintivo, de defesa.


Ótimo seria se as ervas daninhas que habitam outras frentes fossem arrancadas com tamanho imediatismo. Aquelas que nos tomam o pensamento de forma sorrateira. Que entram pela porta dos fundos e de repente estão sentadas no sofá pedindo copo de água e cafezinho. Ah! Se as ervas daninhas que brotam na mente fossem extraídas com garra de guerreira! O mundo seria governado por Pollyannas e Amelies Poulain!


Porque cada praga não destruída é uma oração que emitimos diariamente. Comunicação involuntária. O pensado, dito e realizado nas 24 horas que pintamos e bordamos por aí. São as crenças e os pensamentos que reconhecemos como realidade mesmo quando não condizem com o que pedimos na conversa miúda que temos com o Universo antes de dormir. O que adianta barganhar um emprego decente e financeiramente viável se o que grita ao mundo assim que abre os olhos é descontentamento e ingratidão?


A raiva da injustiça e solidão tomam tanto espaço que resta ao amor esconder-se no quitinete da alma. A preguiça não nos deixa reagir a um pensamento de ira, mas nos deixa fazer cara de vítima e reclamar do tempo, do namorado, do filho adolescente, da sogra, da doença, do vento, da perseguição do mundo...


Um pensamento pode ser cortado a foice! Transformado, ignorado. Uma atitude pode ser questionada e submetida à sabatina da individualidade: acompanha meus ideais de felicidade? As palavras que saem da boca são mais perigosas do que a comida que entra. Mãos à obra! Como diziam os antigos: Orai e vigiai. Amém.

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