quarta-feira, 4 de maio de 2011

Briga de comadres

 Duas mulheres habitam em mim. Almas completamente antagônicas. Enquanto uma é serena e sensata, de olhar generoso e busca espiritual, a outra é inconstante e insatisfeita, de olhar que é fogo em brasa e busca profana. Faces da mesma moeda, que brigam o tempo todo por espaço. Custei a identificá-las, mas quando aconteceu, confesso que tomei partido da primeira.


Assistindo a um dos capítulos da novela Cordel Encantado tive um insight. Entre os personagens, há um duque que foi trancafiado na torre de um castelo distante, preso a uma máscara de ferro. Tudo isso porque descobriu as trapaças e traições de sua esposa Úrsula e a bruxa descolada resolveu dar um jeito no assunto e abafar o caso. Cadeia e focinheira nele! Só que passados uns bons bocados de anos algo misterioso acontece: o prisioneiro consegue escapar e a segurança da duquesa está com os dias contados. Contos de fadas à parte, o fato é que o que é sufocado nunca morre, mas retorna raivoso e com planos de vingança.


Dois dedos de pó se acumularam no blog desde minha última passagem. A verdade é que me encontrei num labirinto de emoções em que as palavras me pareceram insuficientes. Preferi me recolher em tarefas cotidianas e deixar que as duas comadres em guerra declarada se desgastassem e por fim me deixassem em paz. Não houve bandeira branca e tampouco me deixaram em paz. Uma delas, ainda, ameaça minha sanidade. Como a duquesa de Débora Bloch, estou com os dias contados.


Uma amiga já havia dito que não podemos jogar fora o que foi colocado em nossa bandeja. A tarefa é aceitar as demandas e aumentá-la – quando estiver difícil equilibrar os quitutes. A mulher inconstante que habita em mim cobra agora o futuro roubado. E a tarefa da bandeja parece impossível. Quer o seu espaço neste latifúndio. E a voz, há tanto tempo emudecida. Quer dizer a que veio com tanta violência que tenho medo de mim mesma. Mas sei que tenho que intervir e dar a ambas as minhas faces o mesmo amparo.


Amparo que estendo às palavras escritas neste blog. Com espaço garantido para essas mulheres que colocam diariamente guloseimas em minha bandeja. Para que o embate que ocorre entre as vizinhas se transforme apenas num estranhamento natural. E por fim, e quem sabe, em terna amizade. E eu siga em frente, sem o desconforto de tentar escondê-las numa torre de um castelo distante. E seja, então, uma princesa, mas em posse de sua vassoura e caldeirão.
                                                           

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