Fito a tela do computador e a folha vazia. Os pensamentos rodam à vontade como de costume. Brincam no gramado. Registro cada palavra com rapidez. Antes que percebam. Como se precisasse garantir que não fossem embora com o vento, com medo de serem encaixotadas num blog qualquer. Sei do desconforto que sentem quando se imaginam tendo que ser lineares (tudo de mais bonito parece se esconder quando há intenção de contextualizar).
Só quero a amizade dos meus miolos. Fazer de conta que não percebo a brincadeira de gato e rato. Escrever com a cumplicidade de quem corre junto. Mudando de assunto de forma descompromissada como fazem as crianças. No clima de “se não querem ficar, tudo bem”. Como se entendesse os motivos que eles têm de não se entregar de pronto quando desejo.
Brinco de resgatar a vontade. Aterrada que foi por obrigações bobocas. Exercito o verbo em movimento. Misturo tudo (como faço com minhas tintas) e não busco sentido algum. Não preciso mais fazer sentido. Fazer sentido cansa.
Tenho boas coisas a dizer. Bem sei. Principalmente para mim. Mas também tenho discursos prontos no baú das minhas certezas que intenciono queimar. Para escrever lorotas que me façam rir.
Escrevo porque amo palavras desde o útero. E porque saem prontas como se alguém me soprasse um canto. Frases inteiras que às vezes escrevo pela metade. Porque não consigo alcançá-las quando quero. E às vezes não quero aceitá-las como devo.
Os assuntos que me parecem enfadonhos e superestimados se repetem no discurso. Me impedem de virar a página. Não me abandonam jamais. Tomam conta do espaço em usufruto. Me encaram no silêncio da linha. Sei que devo esgotá-los em mim. Dissecar todas as possibilidades. Enfrentar o medo de ser medíocre. Que me desculpe o leitor. Algo me diz que vai valer a pena.
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