Descobri as escritas de Rodrigo Domit repousando em sua colcha de retalhos na estante da Sala de Imprensa da última Bienal Internacional do Livro. Tirei-as do cochilo e iniciamos um tricô como velhas conhecidas. Passeei por historietas que pareciam familiares. Ou talvez não, não sei ao certo. O fato é que poucas palavras conseguiram me fazer enxergar recortes de muitas vidas. Como se o autor pudesse perceber no percurso de cada andarilho do mundo o instante exato em que a simplicidade de algum acontecimento fosse perturbadora o bastante para tirar o sono de toda humanidade. Um pouco de Domit:
Destino
Acordou no ônibus; Não sabia para onde estava indo, não fazia idéia.
Olhou em volta, apenas indiferença. Começou a ficar incomodado com a situação. Queria perguntar para alguém sobre o destino, mas tinha vergonha. Tentou olhar pela janela, mas estava no corredor e a senhora ao seu lado dormia, com as cortinas fechadas.
Depois de certo transtorno, resignou-se coma a situação. Nunca achou que fosse chegar a lugar algum. Algum lugar –qualquer que fosse – já seria longe.
Caminhos
Ia sempre em direção contrária ao fluxo.
Ia sempre em direção contrária ao fluxo.
Sabia que nunca ia ter carona; Mas sabia, também, que sempre haveria alguém para andar ao lado.
Incógnita
Era viciada em reuniões de anônimos.
Na esperança de ser notada, ia a todas. Dos narcóticos aos workaholics, passando por alcoolistas, comedores compulsivos e mulheres que amam demais.
Tudo o que ela queria era deixar de ser anônima.
Capacidade
Desde que o tempo é tempo, as pessoas desejam ter a capacidade de enxergar através das outras. Sensações, sentimentos e os mais profundos pensamentos. E a essa capacidade, deu-se o nome de compreensão.
Capacidade
Desde que o tempo é tempo, as pessoas desejam ter a capacidade de enxergar através das outras. Sensações, sentimentos e os mais profundos pensamentos. E a essa capacidade, deu-se o nome de compreensão.
Nos tempos atuais, caminhando pela rua, percebe-se que as pessoas têm a capacidade de enxergar através das outras; A essa capacidade, dá-se o nome de indiferença.
Domador de demônios
Deito em minha cama e milhares de pequenos demônios infestam-me as idéias, o travesseiro e o canto escuro do quarto. Ando cautelosamente até o som, ligo-o e volto para a cama; Com a música, ao menos eles dançam.
Domador de demônios
Deito em minha cama e milhares de pequenos demônios infestam-me as idéias, o travesseiro e o canto escuro do quarto. Ando cautelosamente até o som, ligo-o e volto para a cama; Com a música, ao menos eles dançam.
muito obrigado!
ResponderExcluirfico muito feliz com os caminhos que este livro tem trilhado ... e mais ainda por saber das reações que causou por aí
abraços,
Rodrigo
ResponderExcluirSurpresa boa você por aqui! Parabéns pelo talento e versatilidade na costura das palavras. Seu livro foi um presente do acaso e me encanta a cada releitura. Que possa chegar, assim sorrateiro, a muitos leitores pelo caminho. Abraços. :)
oi, Helga
ResponderExcluirtomei a liberdade de republicar e agradecer por aqui ó:
http://rodrigodomit.blogspot.com.br/2012/09/retorno-inesperado.html
um grande abraço
e obrigado pelo seu comentário em relação ao livro!
Agradeço a delicadeza da publicação!
ResponderExcluirE ao acaso pelos presentes inesperados.
Sucesso! :)